Um degrau, nada
mais!
Quando foi que ele
notou que estava acostumado a andar pela escuridão, que seu tênue
prestígio era acobertado por véus levemente sombrios que se
sobrepunham, lhe turvando a visão? Tranquilamente, ele mantinha o
esforço de perceber o máximo ao seu redor. Como pode alguém
perceber-se, assim, do nada? O que poderia chamar-lhe a atenção
fora de sua bolha turvada pela ignorância? O que poderia tê-lo
deixado ir-se, como diriam os mais antigos? O que poderia ter mais
importância que o mundo criado por uma cabeça tão imaginativa,
onde não há dúvidas? Certezas absolutas, manias enraizadas, sendo
seu umbigo o centro de todos os possíveis universos descritos por
quaisquer que sejam as teorias científicas.
Sua intenção era a
liberdade, mas não a conseguia enxergar de forma clara. Dizia que
tinha a certeza de uma força apesar da atração para atitudes
autodestrutivas em vários níveis de sua existência. Um corpo sem
vida ainda de pé, um morto-vivo à procura de uma cova para
descansar do tanto sofrer, a alma querendo abandonar a matéria, o
desânimo, a depressão, a honra manchada por tantos erros, a moral
esquecida em alguma esquina. Tudo estava errado. Mas ele conseguiu se
reajustar à sociedade e, agora mesmo, sem querer, é exemplo de
superação. Quem diria!
O tempo exato para a
troca de rumo nem mesmo ele sabe ao certo. Mudar, transformar a forma
de pensar, de agir, de expressar seus anseios, não é lida
simplória, pelo contrário, é labuta e estudo diário e constante
da reforma do Eu.
(Flavio Gaffrée Pacheco)
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